sábado, 29 de junho de 2013

“Um, dois três, quatro, cinco mil, ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”, “pula sai do chão por saúde e educação”,

POR SAÚDE E EDUCAÇÃO

Protesto com 4 mil ativistas marcha até hospital abandonado; políticos são vaiados


Welington Sabino, repórter do GD
João Vieira
Com um ato simbolizando o repúdio pelo abandono da construção do Hospital Central, uma obra pública que se tivesse em funcionamento poderia desafogar as unidades de saúde de Cuiabá que só vivem superlotadas com pacientes deitados nos corredores aguardando leitos nos quartos, os cerca de 4 mil manifestantes que percorreram as principais avenidas de Cuiabá nesta sexta-feira (28), mandaram um recado ao governador do Estado, Silval Barbosa (PMDB). O recado de que querem ser ouvidos, respeitados e terem serviços públicos de qualidade para compensar as altas cargas tributárias que todo cidadão é obrigado a pagar. Em frente a obra abandonada e tomada pelo matagal, os ativistas sentaram no chão por cerca de um minuto e fizeram silêncio.
Sem iluminação no local, a única claridade vinha das centenas de celulares com lanternas acesas e também os flashes de luzes das Câmeras fotográficas e filmadoras de profissionais da imprensa que acompanhavam o manifesto intitulado de 3º Ato contra a Corrupção e Violência, cujos temas predominantes na pauta eram a saúde e educação pública. No local também foram feitas críticas quanto a falta de iluminação pública. “Se esta rua, se esta rua fosse minha, eu mandava, eu mandava, iluminar...”, assim os manifestantes cantavam em tom de ironia. Em seguida, se levantaram, cantaram o Hino Nacional e continuaram a marcha rumo ao destino final, a Praça das Bandeiras, na região do Centro Político Administrativo, reduto dos principais órgãos públicos de Cuiabá.
João Vieira
Aos gritos de “Um, dois três, quatro, cinco mil, ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”, “pula sai do chão por saúde e educação”, “vem pra rua vem” e “o povo acordou”, os manifestantes caminharam da região central, desde a Praça Alencastro, sede da prefeitura de Cuiabá, passando pelas Avenidas Tenente Coronel Duarte (Prainha, Historiador Rubens de Mendonça (AV. do CPA) até ganharem a Avenida André Maggi, local de acesso à Assembleia Legislativa do Estado. Depois, seguiram rumo à obra abandonada do hospital.
Por onde a passeata passava, o trânsito era interrompido com apoio de dezenas de agentes de trânsito, os populares amarelinhos, que seguiam na frente com motocicletas e fechavam os principais cruzamentos da Avenida do CPA. Um aparato com dezenas de policiais militares também caminhavam junto à multidão para fazer a segurança. Eles seguiam na frente da passeata, ao lado e também na retaguarda. A caminhada começou às 17h30 e terminou por volta das 20h na Praça das Bandeiras.
Os políticos de Mato Grosso mais criticados, durante a passeata foram o governador do Estado, Silval Barbosa, o deputado José Riva (PSD), afastado da função de presidente da casa por determinação judicial, e o hoje senador Blairo Maggi (PR) que também já governou o Estado por 2 mandatos, sendo que no segundo mandato, ele se afastou para disputar uma vaga no senado. Foi quando Silval que era vice assumiu o comando, em 2010. Foram muitas vaias e gritos de revolta direcionados ao trio. Os momentos em que as vaias aumentavam contra Blairo foram quando os ativistas passaram em frente à sede do Grupo Amaggi, de propriedade da família do senador. “Ô Maggi, presta atenção, com o meu dinheiro, não”, bradavam. Contra Riva foi em frente à Assembleia Legislativa. No local, por alguns instantes, eles também ficaram de costas e gritavam em coro “não me representa”, repudiando ele e os demais deputados mato-grossenses.
Já o governador Silval foi lembrado com vaias, xingamentos e palavras de ordem durante todo o trajeto. Mas os gritos de repúdio contra ele aumentaram nas imediações da obra do hospital abandonado há quase 3 décadas. “Ô Silval, cara de pau, termina a obra do Hospital Central”, cantava em coro o grupo. Eles também entoavam a todo momento a palavra “vergonha”, devido o fato de a obra estar abandonada ha 28 anos, mas todos os governadores vieram que depois nada fizeram para terminá-la. “Esse Hospital Central é o exemplo da corrupção e abandono que temos. É a falta de política séria que levou a esse descaso. O governador Silval Barbosa  também fez a promessa. Quantas pessoas morreram e poderiam ter sido atendidas neste hospital?”, questionou o jovem Caiubi Kuhn, um dos organizadores da manifestação.
A pós-graduanda em Direito, Érica Venzel, 27, era uma dos cerca de 4 mil manifestantes. Ela caminhava de saia e descalça pelo asfalto e disse que essa foi a segunda manifestação que ela participou na Capital. Ressaltou que saiu às ruas para apoiar o povo, que segundo ela, enfim está mostrando à classe política que a população tem força e precisa ser ouvida e atendida. “É preciso lutar pelos nossos direitos, só assim para os políticos acordarem e ouvir o clamor da sociedade. O povo está mostrando sua força, temos direitos que não são cumpridos. A educação e a saúde pública não estão recebendo a devida atenção, falta investimentos e o povo é que sofre”.
João Vieira
A jovem disse ainda que o Estado tem condições para investir para investir na saúde e e educação. Questionada como isso é seria possível, já que os governantes sempre alegam falta de recursos, ela foi taxativa. “Só precisam roubar menos, a corrupção precisa acabar”, enfatizou Érica.
Outra manifestante que caminhava com a maior disposição percorrendo os vários quilômetros do trecho escolhido por votação da maioria através do Facebook, era a dona de casa Cinda da Silva, 60. Ela mostrou que não é só a juventude que está saindo às ruas para mostrar a insatisfação. “Estou participando desse ato pra exigir melhoria para o país. Não tem educação, não tem saúde, não tem saneamento. Muita coisa está errada, são muitos crimes e muita corrupção. Isso precisa mudar”, disse dona Cinda que também opinou sobre outra questão polêmica que divide o país e resulta em acaloradas discussões: a possibilidade da redução da maioridade penal.
João Vieira
A idosa afirmou ser favorável à redução da maioridade e criticou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Pra mim, essas leis que protegem menores criminosos e também proíbe eles de trabalharem, precisa acabar. Não podemos mais aceitar que adolescentes sejam proibidos de trabalhar, mas continuem roubando e matando sem uma punição rígida”, disse dona Cinda.
Durante todo o trajeto, não foram registrados atos de vandalismo ou qualquer incidente que os policiais precisassem intervir. Após o último ato na Praça das Bandeiras, por volta das 20h, o movimento foi dispersando e os ativistas seguiam cada um por um rumo diferente para esperar ônibus ou `mesmo caminhar à pé na volta pra casa.

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