POR ADEMAR ADAMS*
Riva deveria ter ido para a cadeia em 2003, logo após a prisão do bicheiro João Arcanjo. Isso porque as provas dos desvios de, na época, 60 milhões da Assembleia Legislativa eram tantas que parecia iminente o fim do reinado do Baixinho.
Mas o judiciário se submeteu a todo tipo de chicanas e adiamentos, que a população foi ficando entorpecida e descrente na punição. Contribuiu para isso a inatividade da Procuradoria Geral de Justiça que após a saída do procurador Luiz Jacob, passou a fazer corpo mole, não reagindo à tela de proteção armada no Tribunal de Justiça.
Enquanto Riva resistia na justiça, ia se alternando na Presidência ou na 1ª Secretaria da Casa de Leis, tendo no bolso quase a totalidade dos deputados que passei a nominar de “rivaboys”.
Nas eleições subsequentes, os eleitores desinformados e os comprados iam lhe dando votações expressivas. Para isso, a cada ano o duodécimo aumentava e a forma de desvios passou a ser mais sofisticada. Já a imprensa foi ficando cada vez mais calada quanto às falcatruas e mais generosas nos elogios e babações ao deputado, graças ao pagamento de polpudas verbas de zelo. Uma mostra disso foi o comportamento da Globo local, que passou o dia cheia de dedos para dizer que Riva estava preso, só o fazendo no noticiário da noite.
Até o Fantástico da Rede Globo engavetou uma bombástica reportagem do “repórter sem rosto” que passou a ser um reles repórter sem ética. Do morto que assinou cheques, às calcinhas milionárias, as maracutaias do Riva foram dissecadas. Mas o comando da emissora vetou a exibição da reportagem. Na época foi denunciado que teria rolado 10 milhões de jabá.
O Tribunal Faz de Contas, que só pune gestores de pequenos municípios, jamais enxergou qualquer desvio no legislativo estadual. Aliás, recentemente um dos procuradores que era o relator nas contas de Riva, depois de um voto que apontou inúmeras irregularidades insanáveis, sabe Deus por que, pediu a aprovação e foi seguido à unanimidade pelo corte.
A luta social pela criação da Vara de Ação Civil Pública, permitiu que a centena de processos contra o deputado saísse das mãos de juízes conservadores das varas da Fazenda Pública, para magistrados mais modernos e ciosos do interesse público em jogo. As sentenças condenando Riva passaram a descascar e colocar no forno a batata dele.
Também laborou em favor da sociedade a aposentadoria pelo CNJ de uma penca de magistrados, alcunhados de “rivajus”, pela defesa às vezes explícita, do deputado. Daí, a nova formação das Turmas do Tribunal, com destaque que não se pode deixar de citar, para os desembargadores Maria Erotides e Luiz Carlos Costa que em magistrais acórdãos, transformaram, finalmente, Riva em ficha suja.
Feita esta resenha, temos de constatar que a prisão do deputado Riva não tem nada a ver com os desfalques perpetrados no começo de sua carreira parlamentar, que em valores atualizados chegariam hoje a meio bilhão de reais. O processo atual envolve outras denúncias de desvios de dinheiro público, lavagem de dinheiro e outros crimes.
Mas nós, que conhecemos o judiciário brasileiro, não devemos ser muito otimistas. Basta que em um plantão do Supremo, um Gilmar Dantas ou Marco Collor de Mello conceda uma liminar e mande soltar o deputado, como já mandaram soltar dois banqueiros ladrões em outras ocasiões.
O que a sociedade espera, é que seja o começo do desbaratamento dessas quadrilhas que vem assaltando os cofres públicos de forma desbragada nos últimos anos. Mas tem muitos corruptos ainda soltos, de orelha em pé, mas por ora livres.
E os caititus?
Nos próximos dias a Ong Moral deverá pedir à Assembleia Legislativa a abertura de processo de cassação do deputado. Vamos ver como se portam os caititus após o encarceramento do chefe da vara. O atual presidente, que uma ano após o afastamento de Riva da Presidência, não teve coragem de ocupar o gabinete que lhe cabia. Medroso esse Romualdo, não?
E o Mággico?
Parece claro que o senador Blairo Máqquinas sabia do tsunami que se abateria nas cercanias do rio Cuiabá, pois partiu em oportuníssimas férias com a família para a Europa, e escapou, por ora, da avalancha. Mas foi seu status de senador que levou o processo ao STF.
*ADEMAR ADAMS é jornalista em Cuiabá, Mato Grosso. É militante da Ong Moral e foi o presidente fundador desta entidade popular cuiabana.
Fonte Pagina do Enock
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