domingo, 9 de dezembro de 2012

Desesperados, moradores de Suiá Missú tentam comover Dilma com protesto fúnebre (veja fotos)


Do Posto da Mata- Lucas Bólico e Renê Dióz - Enviados Especiais do Olhar Direto
Foto: José Medeiros/ Fotos da Terra
Desesperados, moradores de Suiá Missú tentam comover Dilma com protesto fúnebre  (veja fotos)
Após uma sequência de duras derrotas, os moradores de Suiá Missú tentam aquela que pode ser a última ferramenta para evitar o despejo e o fim do distrito de Estrela do Araguaia: provocar, por meio da imprensa, a compaixão da opinião pública e, quem sabe, fazer a repercussão negativa ecoar até o Palácio do Planalto, em Brasília.

Todas as tentativas de marcar uma reunião com a presidenta Dilma foram frustradas até o momento. Isoladas geograficamente e acossadas pelo despejo determinado pelo Supremo Tribunal Federal, as famílias enterraram simbolicamente o município no cemitério Jardim da Saudade, localizado no distrito, na manhã deste sábado (8).

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O ato serviu também como contraponto ao decreto que criou a demarcação indígena Marãiwatsédé, baseado em um laudo antropológico que detectou a existência de um cemitério indígena na região disputada. Na prática, os moradores tentam mostrar que também há no local uma necrópole de não-indíos, que estão sendo tirados do local. Eles também contestam a existência do campo-santo indígena na região.



“Meu sobrinho está enterrado aqui, ele morreu com um ano de idade, é muito duro, muito difícil para a família ter que deixar tudo o que construiu para trás. Mas é mais difícil ainda ter que largar o corpo de alguém que você ama. Vamos fazer o que, tirar o corpo dele dai?”, questionou Valdomiro de Jesus, 34 anos, frente à cova de seu sobrinho.

Sob o forte sol, Maria Aparecia de Santana Santos, 45, passou mal durante entrevista ao Olhar Direto, enquanto observava o local em que seu marido, Édio Pereira dos Santos, foi enterrado, há um ano e cinco meses. Ela caiu no chão quando, aos prantos, ‘pedia’ para a presidente Dilma Rousseff (PT) reverter a desintrusão. Ao cair no chão foi socorrida e levada para uma ambulância.

Crédito: José Medeiros/ Fotos da Terra

Constatar que supostos restos mortais indígenas sob a terra justificam a demarcação do local e varrer do mapa toda uma cidade revolta especialmente moradores como Cícero da Silva, 64 anos, que no mesmo cemitério já enterrou praticamente toda a família: pai, mãe, duas irmãs e uma filha. “Não é possível, o Brasil não é mais um país democrático”, ressente-se.

“Eu só queria mandar um recado para a presidente Dilma. Enquanto ela está se preocupando lá com a Espanha, porque está em crise, que ela se preocupasse com o país dela, que está em decadência. O nosso país está todo sendo vendido para as Ongs e não vamos ter como criar nossos filhos. Nós, pais de família, vamos ter que virar bandidos, atacar o Planalto, atacar bancos. Nós estamos agoniados, todo pai de família tá chorando noite e dia, a agonia mais triste do mundo. Nós trabalhamos para sobreviver e, de agora pra frente, nós vamos ser bandidos, porque é isso que o país quer. Todos os pais de família vão virar bandidos e eu vou ser o primeiro”, ameaçou Sebastião Ramos, 59 anos.



Próximo a ele, o vento levava os pequenos pedaços de papel do comprovante de votação no pleito deste ano em nome de José de Jesus, 37 anos, trabalhador de roça em Suiá Missú – e, agora, um apátrida declarado com três filhos para criar, um deles no colo. “Não sou mais cidadão brasileiro. Eu me envergonho de ser brasileiro na condição em que a gente se encontra”.

O ato “fúnebre” foi mais um dentre os realizados nestes últimos dias para chamar a atenção da opinião pública. A BR 158 e a MT 242 estão bloqueadas desde o início da semana com raros momentos de abertura. Na sexta-feira, os moradores ajoelharam na terra para rezar em um círculo e decretaram luto no distrito de Estrela do Araguaia. Bandeiras do Brasil já foram queimadas e todas as noites são atravessadas em vigília no Posto da Mata.

Em paralelo, os futuros ocupantes da terra encontram-se em silêncio completo. Restritos à área da atual aldeia, entre Posto da Mata e o município de Alto Boa Vista, os xavantes estão fechados a visitações e à imprensa. Equipe da Força Nacional guarda a entrada da aldeia e, para conversar com os indígenas, é requerida autorização por escrito da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do punho do próprio cacique Damião Paridzané.

Imagens: José Medeiros/ Fotos da Terra
 Fonte: Olhar Direto

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