PALAVRAS QUE INCOMODAM
PÁGINA 10 | LETÍCIA DUARTE (Interina)- ZERO HORA 16/04/2012
A discussão sobre a liberdade de imprensa não é nova, mas a campanha iniciada pelo desembargador Newton De Lucca, presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, pela criação de um habeas mídia , que teria o objetivo de impor limites ao poder de uma certa imprensa, acrescenta novos e preocupantes elementos ao debate.
O magistrado não dá detalhes de como a proposta funcionaria, mas diz que o hábeas serviria “não apenas em favor dos magistrados que estão sendo injustamente atacados, mas de todo o povo brasileiro, que se encontra à mercê de alguns bandoleiros de plantão, alojados sorrateiramente nos meandros de certos poderes midiáticos no Brasil e organizados por retórica hegemônica, de caráter indisfarçavelmente nazifascista”.
O momento da manifestação não poderia ser mais singular. Ocorre em meio a uma crise sem precedentes da magistratura, deflagrada pelas declarações à imprensa da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, de que existiriam “bandidos de toga”. E soa como um contrassenso às vésperas da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, saudada como um caminho para finalmente garantir mais transparência ao poder público.
A impressão que fica é de que, por mais que todos os poderes exaltem a transparência em seus discursos, no cotidiano preferem que fique restrita às práticas alheias. E isso vale para diferentes setores da sociedade, do privado ao público. Elogiar o WikiLeaks pode ser cool, abrir os próprios dados para serem vasculhados é visto como uma ameaça. Apontar a irregularidade dos outros parece um imperativo ético, mas ninguém gosta de se transformar em alvo de investigação. Porque a transparência não permite só mostrar o que é bom e esconder o que não é, como pretendia a máxima do ex-ministro Rubens Ricupero. Ela expõe a todos – ou pelo menos deveria.
Lógico que a imprensa também não está imune a investigações – e desvios éticos precisam ser combatidos –, mas varrer a sujeira para debaixo do tapete não parece o melhor caminho para aprimorá-la.
fonte: Mazelas do Judiciário.
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