“Teólogo e escritor, Leonardo Boff afirma que as transformações
político-sociais dos últimos 10 anos não podem ser desmoralizadas pela direita
que se aproveita das manifestações nas ruas
“Teólogo e escritor, Leonardo Boff afirma que as transformações
político-sociais dos últimos 10 anos não podem ser desmoralizadas pela direita
que se aproveita das manifestações nas ruas
É notório que a direita
brasileira especialmente aquela articulação de forças que sempre ocupou o poder
de Estado e o tratou como propriedade privada (patrimonialismo), apoiada pela
midia privada e familiar, estão se aproveitando das manifestações massivas nas
ruas para manipular esta energia a seu favor. A estratégia é fazer sangrar mais
e mais a Presidenta Dilma e desmoralizar o PT e assim criar uma atmosfera que
lhes permite voltar ao lugar que por via democrática perderam.
Se por um lado não
podemos nos privar de críticas ao governo do PT (e voltaremos ao tema), mas
críticas construtivas, por outro, não podemos ingenuamente permitir que as
transformações politico-sociais alcançadas nos últimos 10 anos sejam
desmoralizadas e, se puderem, desmontadas por parte das elites conservadoras.
Estas visam a ganhar o imaginário dos manifestantes para a sua causa que é
inimiga de uma democracia participativa de cariz popular.
Seria grande
irresponsabilidade e vergonhosa traição de nossa parte, entregar à velha e
apodrecida classe política aquilo que por dezenas de anos temos construido, com
tantas oposições: um novo sujeito histórico, o PT e partidos populares, com a
inserção na sociedade de milhões de brasileiros. Esta classe se mostra agora
feliz com a possibilidade de atuar sem máscara e mostrando suas intenções antes
ocultas: finalmente, pensa, temos chance de voltar e de colocar esse povo todo
que reclama reformas, no lugar que sempre lhe competiu historicamente: na
periferia, na ignorância e no silenciamento. Aí não incomoda nem cria caos na
ordem que por séculos construimos mas que, se bem olhrmos, é ordem na desordem
ético-social.
A crise
econômico-financeira de 2008 instaurada no coração dos países centrais que
inventaram esta perversidade social, foi consequência deste tipo de opção
política. Foram os Estados que tanto combateram que os salvaram da completa
falência, produzida por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância
(greed is good), como não se cansa de acusar o prêmio Nobel de economia Paul
Krugman. Para ele, estes corifeus das finanças especulativas deveriam estar
todos na cadeia como criminosos. Mas continuam aí faceiros e rindo.
Então, se devemos
criticar a nossa classe política por ser corrupta e o Estado por ser ainda, em
grande parte, refém da macro-economia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e
senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se
aproveita desta crítica, não para melhorar a sociedade em benefício do povo que
grita na rua, mas para resgatar seu antigo poder político especialmente, aquele
ligado ao poder de Estado a partir do qual garantia seu enriquecimento fácil.
Especialmente a mídia privada e familiar, cujos nomes não precisam ser citados,
está empenhada fevorosamente neste empreitada de volta ao velho status
quo.
Por isso, as
demonstrações devem continuar na rua contra as tramóias da direita. Precisam
estar atentas a esta infiltração que visa a mudar o rumo das manifestações. Elas
invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham
com a volta do braço armado para limpar as ruas.
Dai, repetimos, cabe
reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas,
evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e o oposição para
juntas novamente esvaziar o clamor das ruas e manterem um status quo que
prolonga benefíciois compartilhados.
Os atores da direita
estão bem posicionados institucionalmente e politicamente…A possibilidade de
reversão das tendências está nas ruas, se soubermos canalizar sua enorme energia
mobilizadora. Por que não instalar em todas as cidades do país aulas públicas,
espaços de deliberação pública e de participação direta para construir com o
povo propostas sobre a realidade nacional, o plebiscito, o sistema político, a
taxação das grandes fortunas e do capital, a progressividade tributária, a
pluralidade dos meios de comunicação, aborto, união homoafetiva,
sustentabilidade social, ambiental e cultural, reforma urbana, reforma
republicana do Estado e tantas outras demandas históricas do povo brasileiro,
para assim apoiar e influir nas políticas do governo Dilma”?
Desta forma se
enfrentarão as articulações da direita e se poderá com mais força reclamar
reformas políticas de base que vão na direção de atender a infra-estrutura
reclamada pelo povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos,
melhor transporte coletivo e menos violência na cidade e no campo.
Leonardo Boff não é
filiado ao PT, é teólogo e escritor, da Comissão da Carta da
Terra."
Fonte: Brasil Brasil
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