segunda-feira, 20 de junho de 2011

MPF acusa esposa de desembargador

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Denúncia do Ministério Público Federal mostra que a advogada Célia Cury esteve envolvida em nove dos 14 casos investigados no inquérito 



ANA ROSA FAGUNDES
Da Reportagem

A denúncia do Ministério Público Federal, ao fim das investigações da operação Asafe, apontou a advogada Célia Cury, esposa do desembargador José Tadeu Cury, como a grande articuladora do esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

Dos 14 casos de negociata relatados na denúncia do subprocurador-geral da República Eugênio José de Aragão, Célia Cury está envolvida em nove.

No total, 37 pessoas foram denunciadas, entre desembargadores, juízes, advogados, parentes de magistrados, servidores do Judiciário e políticos. Marido de Célia, o desembargador Tadeu Cury não está envolvido no caso.

Conforme o documento do Ministério Público, a advogada é um dos elos centrais do esquema que teria se formado para oferecer decisões favoráveis dadas por membros da magistratura mato-grossense mediante pagamento.

Conforme as investigações, o subprocurador-geral pontua que Célia tem cuidado exacerbado em conversas ao telefone. Tenta não mencionar nomes e números, “lançando mão de códigos de substituição simples como forma de disfarçar as conversas suspeitas”.

Um dos exemplos de código citado na denúncia é uso da palavra “BRILHANTES”, sendo que a letra B significa o número 1, R significa 2 e assim por diante, até chegar no S, que significa zero. Assim, ao passar um número ao telefone, ela dizia somente letras, de forma a despistar no caso de estar sendo grampeada.

O escândalo veio à tona em maio do ano passado, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Asafe. Foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão e nove pessoas foram presas temporariamente. Entre os nomes, o de Célia Cury.

O inquérito tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em razão do foro privilegiado de alguns dos envolvidos. A ministra relatora- do caso é Nancy Andrighi. Ela fará um relatório aceitando ou não a denúncia, o que depois será apreciado pelo Pleno do STJ.

Para facilitação da compreensão do caso, o Ministério Público dividiu a denúncias em 14 fatos distintos, mas “evidentemente interrelacionados, com atores e mecânica de conduta próprias de cada um”. De maneira geral, alguns advogados tinham acesso a membros do Tribunal de Justiça e faziam negociações para clientes.

Nas situações de compra ou tentativa de compra de sentença em processos cíveis e penais, não há interceptação telefônica de magistrados.

Assim como Célia Cury, a dona-de-casa Ivone Reis está envolvida na maioria dos casos. Ela é amiga pessoal de Célia e realiza encontros, inclusive, em sua casa. “Célia Cury e Ivone Reis vendiam constantemente a ideia de que possuíam influência perante o TJMT”, diz a denúncia. Como prova dos crimes, a denúncia traz extrato de saldo bancário, que confirma depoimento prestado por Ivone à Polícia Federal, no qual relata valores de uma das negociações.

Já nos casos investigados em tramitação no Tribunal Regional Eleitoral, a Polícia Federal fez escutas telefônicas de juízes do Pleno, no qual conversavam as tratativas e valores, mesmo que de forma cuidadosa, mas em suma combinavam encontros pessoalmente.

A ministra Nancy Andrighi pode desmembrar as denúncias, separando os que não detêm foro privilegiado para proporcionar maior celeridade ao trabalho. Todas as vezes em que foi procurada pela reportagem, Célia Cury preferiu não dar entrevistas. 

Fonte. Diário de Cuiabá.

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