quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os últimos coronéis

Os últimos Em três décadas, o deputado estadual do Mato Grosso, José Geraldo Riva, se transformou em um dos “capas” mais poderosos do Estado, rico e forte politicamente, respaldado por todos os governos os quais atravessou
Por Keka Werneck
Homem baixo, de mais ou menos um metro e meio, branco, careca, sorridente, 50 anos. Trata um câncer. Essa é a descrição física imediata, simplista, de José Geraldo Riva, deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso (AL-MT) pelo Partido Progressista (PP-MT). Em três décadas, o ser aparentemente frágil se transformou em um dos “capas” mais poderosos do Estado, rico e forte politicamente, respaldado por todos os governos os quais atravessou. Riva, apesar de franzino, tem estatura.
E a fama dele corta o inconsciente popular como aquele contra o qual melhor não dizer ou fazer nada. A imprensa quase não o incomoda. Seus pares logo sucumbem ao modo “Zerriva” de administrar, prática inclusive que o coloca em um pedestal quase intocável. Isso em si já indica que descrevê-lo é algo mais amplo que detalhar a conformação física.
A ascensão de Riva se dá em um campo tão complexo quanto o tipo de política eleitoral que ainda se faz em rincões do país. Para falar dele, impossível não citar, ao menos, a dicotomia bem e mal. Já que Riva, como se diz por aí, trabalha. Como se isso fosse predicado a se gabar. É que o mundo parlamentar tem desses eufemismos. Mas trabalha para quem? Riva é pecuarista e defensor claro dos madeireiros de Mato Grosso, o Estado brasileiro que mais põe árvores abaixo (variando entre o primeiro e segundo lugar com o Pará). E para que? Abrir pastos e lavouras, principalmente das monoculturas da soja e algodão, à revelia do grande último tesouro da humanidade: a Amazônia. José Geraldo Riva é, para além de tudo isso, um dos últimos coronéis.
Já faz tempo que o nome dele corre nos bastidores como símbolo de impunidade. O Ministério Público Estadual (MPE) já acumula mais de 100 processos contra Riva, por todo tipo de crime, em especial crimes contra os cofres públicos. Ele é o parlamentar matogrossense mais processado.
No dia 2 de outubro, uma notícia correu por caminhos alternativos, e não por meio da imprensa, que, quando quer, sabe como ninguém fazer alarde. O juiz Luiz Aparecido Bertolucci, da Vara Especializada em Ação Civil Pública e Ação Popular de Mato Grosso cassou os direitos políticos de Riva, obrigando-o a devolver aos três milhões de habitantes do Estado R$ 2.656.921,20 milhões. Isso o coloca na condição de condenado por corrupção.
E agora José?
A decisão do juiz já fez surgir uma campanha popular Fora Riva!, nos mesmos moldes da campanha Fora Gilmar Mendes! (presidente do Supremo Tribunal Federal) – de Diamantino, interior de Mato Grosso.
Nesse processo em específico, José Riva não está só. É réu solidário o também deputado estadual Humberto Bosaipo (PP-MT) e outros citados.
Ficou provado, na opinião do Juiz Bertolucci, que a Assembléia Legislativa, sob a presidência de Riva, emitiu durante 15 meses (agosto de 2001 a dezembro de 2002) cheques em favor da empresa Sereia Publicidade Ltda. Segundo o juiz, notas frias para justificar o estorvo ao público. Ainda conforme o juiz, “a ninguém pode passar despercebido o vulto dos valores, a maneira inédita e a periodicidade anormal dos pagamentos”, feitos em até mais de um no mesmo dia. O juiz destacou uma curiosidade: “um dos cheques foi emitido no dia de natal”.
Essa decisão deve ter feito comemorar o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que em Mato Grosso tem a marca de Antônio Cavalcante, o Ceará. E o pessoal da Moral, entidade que milita pela moralização do uso do dinheiro público, puxada pelo jornalista e servidor federal Ademar Adams. Os dois movimentos têm em Riva um foco de atuação cotidiana.
E o que caracterizaria José Riva como coronel? Por exemplo, o cabresto intelectual que ele exerce na mídia. Cuiabá é a capital de Mato Grosso. Tem três ditos grandes jornais, outros dois menores. Dois sites que reproduzem o modelo factual de noticiar. Alguns blogues. A informação sobre a condenação de Riva seria certamente manchete, dentro da lógica dessa mídia clássica; disputaria ao menos lugar de destaque. No sábado (3 de outubro) a notícia que havia circulado informalmente na sexta (2), não estava estampada nos jornais. Na TV Centro América, afiliada da Rede Globo em Mato Grosso, também não deram matéria sobre isso. Valeria a inflexão insistente de criança de 7 anos: por que será? No domingo seguinte, muito pouco saiu nos jornais. E para achar notícias sobre a condenação de José Riva nos sites, seria necessário persistir.
A sociedade matogrossense aguarda o desenrolar desse caso legendário. Essa mesma sociedade que assistiu boquiaberta, tempos atrás, à prisão do bicheiro João Arcanjo Ribeiro.
Keka Werneck é jornalista em Cuiabá, MT
http://paginadoenock.com.br/home/post/4201
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