Para não dar a impressão de que apenas retaliava o PMDB, presidenta tirou também o líder na Câmara e inventou a ideia do rodízio de líderes. Mas há também outras razões em jogo
| 14/03/2012 07:00
Termo cunhado pelo pensador alemão Ludwig August von Rochau no século XIX, a realpolitik explica os momentos em que os governantes valem-se apenas de considerações práticas e estratégias oportunistas para tomar suas decisões, abandonando as noções e convicções ideológicas. Ao decidir trocar Cândido Vaccarezza (PT-SP) por Arlindo Chinaglia (PT-SP) na liderança do governo, a presidenta Dilma Rousseff, na avaliação de deputados ouvidos pelo Congresso em Foco, ficou na linha da definição de von Rochau. Disposta a dar uma resposta ao PMDB à altura da chantagem pretendida após a derrota na indicação de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Dilma decidiu-se a tirar o senador Romero Jucá (PMDB-RR) da liderança do governo no Senado. Mas apenas tirá-lo seria um ataque muito direto ao grupo de Jucá, comandado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e pelo líder peemedebista no Senado, Renan Calheiros (AL). Para diluir o ataque, Vaccarezza acabou virando bode expiatório: saiu também.
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Não que Dilma morresse de amores por Vaccarezza. “Ela não tinha nenhum motivo concreto agora para tirá-lo, mas a verdade é que o prazo de validade de Vaccarezza já tinha vencido também”, afirma um importante parlamentar do PT. Os problemas com Vaccarezza remontam ainda do início do ano passado, depois da derrota sofrida pelo governo na primeira votação do Código Florestal na Câmara. Mas ele não tramou deliberadamente uma derrota. E Dilma tem convicção de que Jucá ajudou na armação para barrar Bernardo Figueiredo na ANTT.
Se Dilma, porém, apenas afastasse Jucá estaria declarando claramente uma guerra a um importante grupo da sua base de sustentação. Ela precisava de um argumento público para rebater essa intenção. Aí, veio a ideia de rodízio no cargo. Por ela, Dilma pode fazer o discurso de que a saída de Jucá não foi algo pessoal, mas apenas consequência de uma mudança de estratégia: se haverá um rodízio, os atuais líderes, naturalmente, têm de dar lugar a novos líderes. Mas aí era preciso trocar não apenas Jucá, mas também o líder na Câmara. Como Vaccarezza já não era mesmo o líder dos sonhos de Dilma, saiu também, embora já não fosse agora algo previsto. “A saída de Vaccarezza surpreendeu todo mundo”, disse um dos vice-líderes do governo na Câmara, Osmar Serraglio (PMDB-PR).
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