quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Rebeldes usam mulheres como 'isca' na Síria

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ANTAKYA (TURQUIA)
Marcelo Ninio/Folhapress
Integrantes da unidade especial feminina do comando rebelde que luta contra o regime fazem treinamento na Turquia


Não há mulheres na linha de frente em Aleppo.


Mesmo nas áreas afastadas do fogo cruzado, as poucas que circulam na conflagrada metrópole síria caminham apressadas. Estão em fuga, cheias de bolsas, ou saíram apenas para comprar comida e outros produtos de primeiríssima necessidade.
Embora invisível, a adesão feminina à guerra contra a ditadura de Bashar Assad é crescente e tem função estratégica, afirma Thwaiba Kanafani, 41, integrante de uma unidade só de mulheres do ELS (Exército Livre da Síria).
Marcelo Ninio/Folhapress
Integrantes da unidade especial feminina do comando rebelde que luta contra o regime fazem treinamento
Nas cidades turcas próximas da fronteira, Twhaiba e outras mulheres recebem treinamento básico antes de partir para operações em Aleppo e outras cidades da Síria.
Com um sorriso misterioso, diz que as mulheres tiveram um papel decisivo na ofensiva que tomou vários bairros de Aleppo, há quatro semanas. Insinua que sua função era agir como iscas, atraindo membros do regime.
"Mulheres conseguem passar despercebidas, principalmente se estão cobertas", diz Twhaiba, vestindo um uniforme militar novo. "Na linha de frente, usamos roupas comuns. O hijab [véu islâmico] é um disfarce natural para as missões de espionagem."
Nascida em Damasco, ela se mudou em 2002 para o Canadá, onde se formou em engenharia e abriu uma empresa de painéis solares.

Há dois meses, decidiu largar tudo e se juntar à revolução contra Assad.
Deixou os filhos de três e seis anos com o marido egípcio, no Cairo, e foi para Istambul, onde se reuniu com dirigentes do Conselho Nacional Sírio, maior grupo político de oposição. Mas as infrutíferas maquinações políticas do CNS a decepcionaram.
Concluiu que só a luta armada seria capaz de pôr um fim ao regime. Seguiu para a cidade turca de Antakya e, contrariando a imagem conservadora do homem árabe, diz que foi recebida de braços abertos pelos rebeldes.

"Quando entramos na Síria, sou tratada como uma rainha, todos querem me proteger", afirma. "Meu marido ficou um pouco assustado, mas acabou aceitando."
Twhaiba diz que a luta por um país livre é o que move as mulheres combatentes. Mas o desejo de vingança também é forte nas unidades femininas.
Com a cabeça coberta por um hijab preto por baixo de um boné militar, outra integrante da milícia rebelde conta que decidiu aderir à luta armada depois que o irmão foi morto pelo regime.
"Quero vingança", diz, sem meias palavras, Om al Surya, 42, identificando-se com o nome de guerra que usa em sua página no Facebook.
Assim como Twhaiba, ela está levemente maquiada e deixou os quatro filhos com o marido no Egito. O ambiente predominantemente masculino do ELS foi um obstáculo logo superado, diz. "Há alguns salafistas [muçulmanos ultraconservadores] que não aprovam mulheres na guerra, mas eles são minoria", afirma.
Segundo elas, as forças rebeldes têm três unidades femininas: em Damasco, Aleppo e Latakia. "Há missões que só mulheres podem executar", diz Thwaiba, repetindo o sorriso misterioso.
 Fonte Folha de são paulo

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