Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
O parecer será encaminhado agora à Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) do Senado, para análise dos aspectos constitucionais. Antes de
votar, no entanto, a CCJ terá que esperar um intervalo equivalente a
cinco sessões ordinárias do Senado, o que fará com que o julgamento
político de Demóstenes só ocorra a partir da próxima semana.
Após passar pela CCJ, a posição do conselho segue para o plenário, que
terá que decidir, em votação secreta, sobre a perda de mandato do
senador.
A reunião durou cerca de cinco horas. No texto, o relator destacou a
relação próxima de Demóstenes com o empresário goiano Carlos Augusto de
Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, investigado pela Polícia Federal
por suspeita de explorar jogos ilegais e comandar um esquema de
corrupção de agentes públicos e empresários.
Costa destacou em seu relatório que Demóstenes mentiu ao Conselho de
Ética sobre a sua relação com o empresário e que colocou o seu mandato
de senador a serviço dos interesses de Cachoeira. O relatório também
apontou que o parlamentar goiano participava do esquema de "lavagem de
dinheiro" operado por Cachoeira.
"Afirmo, sem tergiversar, que o Senador Demóstenes Torres teve um
comportamento incompatível com o decoro parlamentar: percebeu vantagens
indevidas; praticou irregularidades graves no desempenho do mandato",
disse o senador Humberto Costa ao apresentar seu voto.
A defesa do senador, que falou na abertura da reunião durante 30
minutos, declarou que Demóstenes quer ser avaliado pelo plenário do
Senado e optou por não pedir o arquivamento do processo.
O pedido da defesa causou protesto do senador Mário Couto (PSB-PA). Ele
disse que se desligaria do conselho, caso a decisão fosse a favor de
Demóstenes. "Jamais vi na minha vida uma defesa pedir a condenação. Peço
meu desligamento antecipado deste Conselho de Ética se o plenário
absolver Demóstenes", declarou.
Couto prometeu que abrirá o seu voto quando o processo de cassação for
apreciado pelo plenário da Casa. "Quero fazer um apelo, que o senhor [o
presidente do Conselho de Ética, Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)] seja
portador de um pedido de voto aberto. Nós temos que moralizar o Senado.
Não podemos mais esconder o nosso voto do povo brasileiro", disse. "A
nação está carente de moralidade, e nós não podemos esconder o nosso
voto. Vou abrir o meu voto, nem que, para isso, meu voto seja anulado",
completou.
Já o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse ao votar que os atos de
Demóstenes Torres acabaram prejudicando a imagem do Senado. "O que
estamos aqui cuidando não é da ética no comportamento pessoal. A quebra
de decoro parlamentar não atinge o indivíduo, atinge a instituição",
destacou. "Nos não estamos aqui em uma confraria de amigos. O Senado não
é um clube", declarou.
Antes da votação, o senador Pedro Taques (PDT-MT) lembrou que as
gravações indicaram que Demóstenes avisou Carlinhos Cachoeira sobre as
investigações da Polícia Federal. "Isso é um fato gravíssimo porque
expõe a risco de morte pessoas que estão exercendo uma função pública",
disse Taques. "Não existe nada mais trágico no mundo do que saber o que é
certo e fazer o errado. O senador Demóstenes sabia o que é certo e
optou pelo que era errado", ressaltou.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) falou da decepção que sentiu ao saber
das denúncias envolvendo o senador goiano. "Eu vivo um momento muito
doloroso porque eu tinha uma grande admiração pelo senador Demóstenes. A
mim, ele enganou o tempo todo. Sinceramente, eu acreditei nele. Será
que o problema dele não é um problema psiquiátrico e não jurídico. Um
problema de dupla personalidade", disse.
Simon também defendeu que a votação em plenário fosse feita de forma
aberta. "Eu vou votar pela cassação e gostaria que a votação fosse
aberta", disse Simon.
Matéria ampliada às 23h50
FONTE agencia Brasil
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