segunda-feira, 17 de maio de 2010

Após prisão, homem pode ter sido solto por ser sobrinho de deputado



O chamado “coronelismo”, símbolo de autoritarismo e impunidade, ainda é um traço marcante na sociedade brasileira. O Olhar Direto recebeu uma denúncia anônima do que pode ser mais um destes casos, ocorrido em Sorriso (420 Km ao Norte de Cuiabá) no dia 16 de abril. Na data, o jovem Abidon Daroit de Souza, de 23 anos, foi preso pela Polícia Militar do município. Conforme descrito em Boletim de Ocorrência (B.O) registrado no 8º Comando de Policiamento de Área, o motivo da prisão foi desobediência e perturbação ao sossego público. No entanto, o jovem, sobrinho do deputado estadual Mauro Savi (PR), saiu ileso da delegacia logo em seguida.

Segundo consta do B.O, Abidon e um grupo de pessoas cometiam algazarra no Centro de Sorriso, na Avenida Blumenau, com som alto e gritaria, por volta de meia noite do dia 16, gerando diversas denúncias de moradores do entorno.

Uma viatura foi enviada ao local e o grupo foi advertido para abaixar o som, atendendo ao pedido de imediato. Tão logo a viatura afastou-se, novamente o grupo aumentou o volume e continuou a perturbação pública.

Os policiais mais uma vez abordaram os rapazes e, alertando sobre a possibilidade de multas, Abidon respondia que, na qualidade de subchefe da Ciretran local, retiraria todas as infrações notificadas ao seu veículo e ao de seus amigos, segundo relata o B.O.

O jovem, que bebia uma garrafa de whisky, dizia ainda que não seria preso ou punido, pois era sobrinho do deputado estadual Mauro Savi. Os policiais deram voz de prisão ao rapaz, encaminhando-o à sede da polícia local.

Pouco tempo depois, um tenente coronel teria dado ordens para que Abidon fosse liberado imediatamente. O sargento que comandou a guarnição que efetuou a ocorrência, Jurandir Leite, teria sido solicitado também a retirar o veículo do rapaz da delegacia, além de devolver seus documentos e liberá-lo.

Ainda no mesmo dia, segundo documento ao qual a reportagem teve acesso, o sargento Jurandir redigiu uma carta à corporação solicitando seu afastamento do serviço de rua. “Solicito que este 2º Sgt PM seja afastado do serviço de rua, ainda que temporariamente, visto que me sinto envergonhado, constrangido e muito desmoralizado, sendo penoso pra mim encarar as pessoas de bem desta cidade, em especial as que me conhecem, que me são mais próximas, que confiam em mim e em meu trabalho e que esperam de mim muito mais do resultou este triste episódio”, consta de trecho da carta.

O tenente alega na carta que “ingerências de autoridade superior diretamente no serviço operacional”, envolvendo pessoas influentes e de alto poder aquisitivo, acabam por trazer “baixa estima e desmotivação” à corporação.

“Embora seja legítima a autoridade garantida pela hierarquia, mormente pela disciplina, prender um cidadão por ato por ele cometido e posteriormente chamá-lo à minha presença, devolver seus documentos e dizer que podia ir embora, concomitante aos atos praticados por eles desde a abordagem até a sua liberação, foi sobremodo humilhante tanto para mim quanto para os demais policiais militares presentes, foi como pedir desculpas por tê-lo incomodado na sua “sublime tarefa“ de perturbar a coletividade, dirigir embriagado, não reconhecer a autoridade do estado, em particular da Polícia Militar, entre outros”, consta de outro trecho da carta de solicitação.

O outro lado

O deputado estadual Mauro Savi, procurado pela reportagem, negou que exista qualquer situação de autoritarismo. Ele afirma não ter feito qualquer interferência no caso. “Isso (a prisão) ocorreu sim. Meu sobrinho estava na rua com mais um monte de jovens, eles estavam com som alto à noite e foram abordados. Mas ele foi à delegacia, prestou todos os esclarecimentos e foi solto em seguida. Foi isso o que aconteceu. Eu não tive qualquer participação”, frisa o republicano.
Fonte: Olhar Direto

Um comentário:

  1. É REVOLTANTE! EM PLENO SÉCULI XXI AINDA TERMOS QUE CONVIVER COM PRÁTICAS ABSUDAS COMO ESTA. BASTA! O POVO NÃO ACEITA MAIS CORONELISMO. TODOS DEVEM SER IGUAIS PERANTE A LEI, TANTO EM DIREITOS COMO EM DEVERES. POLÍTICO NENHUM É ELITO PARA ACOBERTAR COISAS ERRADAS. E A LEI TEM QUE SER CUMPRIDA NA ÍNTEGRA. PRECISAMOS DE POLÍTICOS SÉRIOS E DE POLICIAS QUE CUMPRAM O SEU DEVER DOA A QUEM DOER! SE TEM COMANDO DIZENDO AMÉM PRA CACIQUES POLÍTICOS, INFELIZMENTE ESTÁ FORA DOS PADRÕES MORAIS QUE A SOCIEDADE QUER E EXIGE.

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